Por: Fátima Fernandes
Às vésperas de uma das eleições mais polarizadas da história do Brasil, grupos internacionais do varejo parecem não se importar com quem vai comandar o país a partir de 2023.
Mais acanhadas durante o período mais crítico da pandemia do novo coronavírus, marcas como Adidas, Tommy Hilfiger, Zeiss, Nike, Daiso e Outback estão em plena expansão no Brasil.
Grifes que já estiveram por aqui se prepararam para retornar, como a Panerai, marca suíça de relógios, que deve abrir uma loja em breve no shopping Iguatemi.
Assim como essas, dezenas de marcas estão de olho no Brasil. A H&M (Hennes & Mauritz), empresa sueca de moda, com mais de 5 mil lojas em 74 países, é uma delas.
“As marcas com viés internacional e bem operadas no país estão aproveitando este momento em que o brasileiro está viajando menos”, diz Paulo Matos, diretor-geral da Tommy Hilfiger.
A Tommy Hilfiger é uma empresa global de vestuário presente em mais de cem países com cerca de 1.800 lojas na América do Norte, Europa, América Latina e região Ásia-Pacífico.
No Brasil, a empresa, associada à InBrands. já tem 18 lojas próprias – outras quatro estão em processo de abertura-, além de 39 franquias – outras sete devem abrir até o final do ano.
Em 2020, de acordo com Matos, as vendas por WhatsApp de produtos da marca foram muito bem, ano que a empresa abriu 20 franquias. Em 2021, outras 12 foram inauguradas.
Em cinco anos, de acordo com Matos, a marca tem potencial para operar no mercado brasileiro com 40 lojas próprias e 90 franquias, aproximadamente.
MODA ESPORTIVA
Mauro Nomura, um dos maiores franqueados da Adidas, informa que a marca deve abrir de 15 a 18 novas lojas no país em 2023, das quais oito estarão sob o seu comando.
“Independentemente de quem ganhar a eleição, o Brasil passa por uma agenda positiva e, com poucas lojas no país, a marca tem muito espaço para crescer”, afirma Nomura.
Há curiosidade e expectativa em relação à Copa do Mundo, diz ele, até porque as lojas costumam esvaziar na hora dos jogos, especialmente do Brasil.
Mas, como a Adidas é patrocinadora do evento, de seleções, e a fabricante da bola que estará em campo, as lojas devem passar por um momento de vendas aquecidas.
O grupo SBF Ventures, que reúne as marcas Centauro e Nike, também decidiu ampliar o número de lojas da marca norte-americana no país.
Após fechar o ano passado com 22 lojas da Nike, a marca deve terminar este ano com 35 unidades espalhadas em várias regiões do país.
ÓTICA
Com 90 lojas no mercado brasileiro, a Zeiss, rede de óticas alemã, com quase 180 anos, é mais uma rede estrangeira com planos de crescer por aqui.
Até o final deste ano, dez lojas serão inauguradas no Brasil e, no ano que vem, outras 25. Todas as unidades operam pelo modelo de franquia.
Cynthia Pereira, head da Zeiss Vision Center, diz que a operação no Brasil já é a maior da companhia alemã, que também é fabricante de lentes e equipamentos para oftalmologia.
“Eleição não atrapalha os nossos negócios. Nosso produto foca em saúde, que ganhou valor após a pandemia. Pessoas estão deixando o conforto de lado para gastar com saúde”, afirma.
A Zeiss entrou no Brasil em 2015 e, somente neste ano, abriu 19 lojas. “Temos produtos em todas as faixas de preços, com lentes de R$ 300 a R$ 8 mil”, diz.
UTILIDADES
Com 49 lojas próprias no país, a japonesa Daiso abre, na próxima semana, a 50ª unidade no shopping Light, em São Paulo, junto com a Soneda.
Os planos da rede, que possui quase 6 mil lojas em 28 países, é continuar crescendo por aqui com lojas próprias e por meio do modelo store in store, que já conta com quase 80 lojas.
Para o ano estão previstas as aberturas de mais 15 a 20 lojas próprias.
Com a população mais pobre, em razão da alta da inflação, a marca japonesa acredita que tem espaço para crescer no país, já que vende produtos que custam menos de R$ 10.
RESTAURANTES
No setor de restaurantes, marcas estrangeiras também revelam apetite pelo mercado brasileiro.
A Bloomin Brands, holding de restaurantes casuais americanos, dona do Outback, deve abrir até novembro dois restaurantes Aussie Grill, em São Paulo e Rio de Janeiro.
A marca já circula no país desde 2020, com pratos vendidos por meio de delivery pelo iFood.
Recentemente, a companhia informou que está investindo R$ 75 milhões em 17 unidades no Brasil neste ano, das quais 16 da marca Outback e uma da Abbraccio (comida italiana).
ANÁLISE
Marcas estrangeiras mais estruturadas têm percepção despregada da política, de acordo com Marcos Hirai, fundador do Núcleo de Desenvolvimento de Expansões Varejistas (NDEV).
Mercados tradicionalmente importantes para marcas estrangeiras na Europa, na América Latina e na América do Norte, diz ele, perderam força com a pandemia e a guerra na Ucrânia.
“O Brasil acabou ganhando importância neste contexto de potencial de consumo. Marcas que estão por aqui têm planos de expansão e as que não estão se preparam para entrar”, diz.
Para o fundador do NDEV, que representa 20 marcas, o país ainda possui “bons indicadores econômicos”, o que é um grande atrativo para médias e grandes marcas internacionais.
“O Brasil que, em determinado momento, era visto como um pária, passou a ser interessante para as marcas internacionais. Expansão em 2023 está no planejamento de muitas delas.”
O mercado brasileiro cresceu nos últimos 30 anos e vai continuar crescendo, apesar de erros de gestões pública e privada, de acordo com Fabio Silveira, sócio da MacroSector Consultores.
O Brasil, de acordo com ele, é um país que, de maneira esdrúxula, atrai o investidor não somente em busca de mercado real, mas também de remuneração financeira.
“Desde que foi instituído o real, operamos com taxas de juros elevadas, que não permitem que o pequeno empresário prospere, mas o grande sim, por meio de ganhos financeiros”, diz.
Para Silveira, um fator adicional para a atração de marcas estrangeiras é a remuneração dos títulos públicos, as aplicações em renda fixa. “Se souber operar, elas ganham muito dinheiro.”
Marcas internacionais do mercado de luxo estão entusiasmadas com o agronegócio brasileiro, de acordo com representantes do setor ouvidos pelo Diário do Comércio.
Com este setor fortalecido, regiões do interior de São Paulo, além de capitais como Cuiabá (MT) e Goiânia (GO), surgem como boas praças para a entrada de marcas de luxo.
A grande dúvida de representantes do setor de luxo é se este bom momento para o mercado de luxo se sustenta na medida em que os brasileiros passem a viajar como antes da pandemia.
Empresários também temem que um governo de esquerda, no caso de o ex-presidente Lula vencer a eleição, torne mais difícil a entrada de produtos de luxo no país.
Fonte: Diário do Comércio